quarta-feira, 30 de setembro de 2020

"As vantagens de ser invisível"

                                    


                               

Sabe aquele livro que traz uma história profunda, cheia de detalhes doloridos, mas que possui uma narrativa leve que te conduz rapidamente ao seu fim dentro de algumas horas?

“As Vantagens de Ser Invisível”, definitivamente, um deles.

Adianto que os temas em destaque dessa história são: violência sexual e adolescência. Portanto, nada fáceis de serem trabalhados.

No último dia de setembro, mês que propõe conscientização sobre saúde mental e, portanto, de combate ao suicídio, trago a resenha dessa história emocionante escrita por Stephen Chbosky.

O livro conta a história Charlie, um garoto de 15 anos que, buscando se recuperar de uma depressão, tenta levar sua vida adiante depois de perder seu único e, portanto, melhor amigo, que se matou com um tiro na cabeça. Na escola, ele conhece Patrick e Sam, dois novos amigos que vão ajudá-lo na reconstrução do seu sentido de ser, existir, crescer e se relacionar com o mundo a sua volta. Charlie busca expressar seus sentimentos através da escrita e, no início desta história, o que se nota é que ele demonstra uma certa falta de confiança nos seus pais e irmãos e que se consome por uma imensa culpa e saudade pela sua falecida tia, que morreu no dia do seu aniversário.

Pode parecer mais um livro adolescente, mas eu posso te garantir: não é! É um super drama que traz à tona assuntos como abuso infantil, depressão, suicídio e a busca incessante por aceitação e pelo sentido de pertencimento (na escola, na família, no mundo).

Charlie busca, em uma turma de “desajustados”, encontrar aceitação, compreensão e o melhor de tudo: recuperação! E esse caminho acaba trazendo à tona dores do seu passado e que tanto justificam a preocupação de sua família com o seu comportamento e saúde mental, quanto escancaram a verdadeira natureza da sua relação com sua falecida tia, relação essa cujas consequências o levou a tentar cometer suicídio.

Através dessa narrativa, o autor não apenas mergulha nos motivos que levam uma pessoa a se suicidar, mas também convida o leitor a questionar quantas das pessoas ao nosso redor, apesar de parecerem bem, realmente não estavam. Mas que algo sempre pode ser feito por nós, ainda que através de gestos singelos como amor, atenção, escuta e empatia.

O livro convida a uma verdadeira reflexão sobre a importância do diálogo nas relações humanas. Sem dúvidas, a sua mensagem mais importante é: NÃO DESISTA. VOCÊ NÃO ESTÁ SOZINHO. SUAS EXPERIÊNCIAS NÃO TE DEFINEM.

Busque ajuda se você não se sentir bem ou forte emocionalmente!

Forte abraço!



Ficha técnica:

Livro: As Vantagens de Ser Invisível

Editora: Rocco

Ano de lançamento: 2007

Autor: Stephen Chbosky

Nº de páginas: 224

Gênero: romance/drama/ficção juvenil


quinta-feira, 24 de setembro de 2020

"Laranja Mecânica"




 

Um clássico é um clássico. Escrito por Anthony Burgess, “Laranja Mecânica” é um livro que traz em seu contexto uma relevante crítica ao sistema de tratamento ao qual o protagonista é submetido para se tornar “avesso” à violência – sistema esse que dele retira todo o seu livre arbítrio, manipulando-o e moldando-se conforme a expectativa de uma sociedade hipócrita, falha e alienada. A obra também acaba por fazer uma crítica ao sistema carcerário e como o seu método de correção inviabiliza a reabilitação do seu humano, em especial, o de Alex, o protagonista desta história que foi escrita há quase 60 anos e que, desde então, se tornou lendária e popular entre os jovens e adultos.

Em breve resumo da história, que se passa em uma sociedade distópica comandada por um governo totalitário, Alex DeLarge é um jovem de 15 anos que faz parte de uma gangue de delinquentes londrinos que, sob o efeito de drogas sintéticas ingeridas no leite, comete crimes de ultraviolência noites afora, tais como estupro, assassinato, extorsão, roubo, agressão e violência verbal. Após um dos ataques não ocorrer conforme o esperado, a gangue de Alex acaba conseguindo fugir, enquanto ele é capturado e encaminhado ao presídio, onde é submetido, como cobaia, a um novo tratamento que promete a cura da violência juvenil. Nesse tratamento, conhecido no livro como Tratamento Ludovico, Alex é forçado a assistir, imobilizado, cenas de extrema violência enquanto recebe injeções de substâncias que lhe causam repulsa e enjoo. Com isso, o que se pretende é causar em Alex o sentimento de aversão a tudo que remeta à violência. Após o tratamento, Alex retorna para a sociedade, incapaz realmente de se manter-se próximo de qualquer situação violenta, porém, incapaz também de apreciar o compositor clássico que tanto amava: Beethoven, tamanhas o alcance e as consequências do “lavagem cerebral” ao qual foi submetido.

A história é narrada em primeira pessoa por Alex que, em descrições “cruas”, expõe seu caráter de garoto criado em ambiente tóxico e degradante, o que faz ao nos compartilhar com o leitor os seus pensamentos maldosos, a frieza de sua conduta e a necessidade de sentir-se superior a pessoas social, cultural e fisicamente vulneráveis e, muitas vezes, aos seus próprios colegas da gangue.

Burgess, autor do livro, criou algumas expressões novas como forma de ambientar o leitor no tempo e espaço pretendidos e conferir à narrativa o seu tom distópico definitivo. Seu vocabulário próprio pode ser acompanhado por um glossário ao final do livro, porém a experiência como leitor atento e imerso desse clássico parece ser mais completa se não precisar recorrer a ele. O uso corriqueiro dessas expressões pode amarrar um pouco o fluxo da leitura no início do livro, entretanto, à medida em que ela avança é completamente possível compreender essas expressões e se acostumar com o uso e presença delas.

Apesar do comportamento violento de Alex, a sinceridade de seus relatos pode até proporcionar uma maior empatia com o personagem quando este já se encontra no presídio, sendo submetido a tratamentos degradantes. E viabiliza uma reflexão ainda maior sobre essa sociedade distópica (ou nem tanto) trazida pelo livro: até que ponto a maldade do ser humano pode ou não ser fruto de uma visão distorcida imposta por um ambiente hostil e manipulador? Será que todos nós estamos, de fato, exercendo nosso poder de escolha ou estamos apenas vivendo uma “liberdade” que já chegou a nós com seus limites preestabelecidos?

Vale a reflexão!

Boa leitura e um forte abraço!

 

Ficha técnica:

Livro: Laranja Mecânica

Editora: Aleph

Ano de lançamento: 1962

Autor: Anthony Burgess

Nº de páginas: 352

Gênero: ficção científica/distopia

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

"Pequena Abelha"

 


Pequena abelha é um livro tocante, sensível. Desses que enche nosso coração de amor e ternura pela história, pelas protagonistas e por suas experiências doloridas. Merece destaque uma delas: uma garota nigeriana de 16 anos que vai experenciar perdas, violências e uma série de outras injustiças - o que, adianto, vão te deixar com o coração na mão, mas, ao mesmo tempo, obstinado a ir até o fim dessa história.

Sua narrativa (em primeira pessoa) é bastante descritiva e, por isso mesmo, possui a capacidade de transportar facilmente o leitor para dentro dos acontecimentos que envolvem os personagens, o que aumenta a sua carga dramática. Apesar de todo o drama que permeia a história das duas protagonistas, é um livro de leitura fácil e rápida.

O livro conta a história de uma adolescente (Pequena Abelhinha) que, sofrendo graves injustiças em seu país natal (Nigéria), parte para a Inglaterra em busca de refúgio.

Aqui, vale a observação de que não se trata de uma história repleta de clichês, que romantiza o drama dos refugiados africanos. Tampouco a narrativa tem por foco esmiuçar, de maneira geral, todas as questões envolvendo a condição de refugiados dos africanos que fogem ou já fugiram de guerras e perseguições em seus países de origem.

O livro é uma narrativa em primeira pessoa de duas mulheres (Abelhinha e Sarah) cujas vidas se chocam em dois momentos distintos, especialmente depois de Abelhinha passar 2 anos envolvida em um problema surgido com a sua entrada ilegal na Inglaterra - situação que, ressalto, gera os maiores sentimentos de injustiça e comoção no leitor durante toda a história.

A leitura acaba propondo uma reflexão sobre os traumas, as dores e as dificuldades que refugiados enfrentam após deixarem seu país natal em um contexto violento. A saudade de seus familiares (que ficaram), as memórias das violências sofridas (física e psicológica), o medo e a desconfiança das pessoas ao redor (mesmo daquelas que querem ajudá-los) são marcas, na maior parte das vezes, impossíveis de serem apagadas. E, neste livro, o leitor tem a oportunidade de se conectar com esse verdadeiro drama que, apesar de ficcional, causa um nó na garganta e permanece dias e dias pairando na nossa mente.

Considero uma experiência literária completa quando ela causa isso: reflexões! E principalmente quando, com ela, vem a necessidade de recomendar imediatamente a leitura a alguém.

Por isso, fica aqui a minha recomendação desse livro que é dolorido, mas delicioso de ler!

Boa leitura e um forte abraço!

 

Ficha técnica:

Livro: Pequena Abelha

Editora: Intrínseca

Ano de lançamento: 2010

Autor: Chris Cleave

Nº de páginas: 272

Gênero: drama/ficção

segunda-feira, 14 de setembro de 2020

"Pessoas Normais"

 


Vou ser direta: "Pessoas Normais" é um livro que entrega mais do que promete. Cheguei a essa leitura após ter visto a série de 12 episódios, disponíveis pela Starzplay no Brasil. O seriado foi uma excelente adaptação do, justamente, "fenômeno literário" escrito por Sally Rooney. O que me trouxe a necessidade de conhecer a literatura após encerrar a primeira temporada (possivelmente, a única, já que a autora não cogita uma continuação da história contada no livro) foi a necessidade de conhecer um pouco mais a fundo os personagens principais, cujas características foram bem abordadas na série. Contudo, ela deixou um convite para que os telespectadores mais curiosos buscassem compreender melhor a densidade desses personagens e, talvez, até compreender melhor as suas próprias decisões e comportamentos.

 E o livro, definitivamente, entrega nas suas entrelinhas a complexidade do que é transitar do final da adolescência para o início da vida adulta. A geração "millennials", definitivamente, é cortada em fatias nesse livro que, em muitos dos seus capítulos, parecia ser a minha própria biografia.

 Não vou trazer aqui a sinopse dessa história, já entregue por tantos sites, vídeos e publicações nas redes sociais. Mas o que eu gostaria de destacar a respeito dessa história é a capacidade dela de demonstrar as nuances dos dois personagens principais dentro do que parece ser o maior amor de suas vidas: o relacionamento um com o outro.

 Ao longo dos seus capítulos, com diálogos desprovidos de travessões e, aparentemente, simples, vemos um casal de adolescentes se identificarem e se relacionarem física e emocionalmente e tornarem esse acontecimento o marco da sua própria história. Isso não significa que o livro seja apenas sobre o amor, mas, sim, sobre a sua própria descoberta e sobre como ele pode ser impactado por sentimentos reprimidos, pelo contexto social, pelas distâncias (física e emocional) e, até mesmo, pela "não adequação" dos envolvidos no ambiente externo e nos estereótipos que os circundam. 

Tanto a série, quanto o livro trazem, com a passagem dos anos, experiências diretas ou indiretas dos personagens com o bullying, a depressão, o suicídio, o desemprego, a violência doméstica e parental, o sadomasoquismo e muitos outros temas. Enfim, entrega muito mais do que relação sexual e dilemas "superficiais" da adolescência, como se poderia supor da leitura de sua sinopse. E o melhor: sem clichês ou afetamentos. Cada parte dessa história é bem contada.

 Apesar dos poucos diálogos entre os personagens principais, a narrativa traz em suas linhas detalhes sutis (às vezes nem tanto) e que revelam como eles estão se sentindo em determinado momento, os seus conflitos internos, as suas opiniões e até inseguranças. E conhecer cada um desses sentimentos e sensações, bem como a própria história que circunda esses personagens, proporciona momentos de empatia e reflexão ao leitor que mergulha na sua complexidade.

A história também transita entre as grandes necessidades da primeira fase da vida adulta, como a de pertencer. Se ela já não eclodiu no ensino médio, simplesmente implode quando do início da vida universitária, principalmente quando aqueles dilemas clássicos da adolescência (como virgindade, vestibular, popularidade, namoro, etc) dão lugar a dilemas mais complicados (como visão política, religião, cultura, emprego, moradia e etc).

Enfim. Eu poderia passar horas escrevendo sobre esse livro, mas acredito que o objetivo principal seja fazer constar aqui que, apesar de se passar em um continente e em uma cultura totalmente distinta da nossa, essa história pode (e muito) fazer com que você de identifique com os personagens e com seus processos de amadurecimento, o que é simplesmente genial para quem busca uma experiência literária rápida e, ao mesmo tempo, visceral.


         Boa leitura e um forte abraço! 


         Ficha Técnica:

        Livro: Pessoas Normais
        Editora: Companhia das Letras
        Ano de lançamento: 2019
        Autora: Sally Rooney
        Nº de páginas: 264
        Gênero: drama/romance