quinta-feira, 24 de setembro de 2020

"Laranja Mecânica"




 

Um clássico é um clássico. Escrito por Anthony Burgess, “Laranja Mecânica” é um livro que traz em seu contexto uma relevante crítica ao sistema de tratamento ao qual o protagonista é submetido para se tornar “avesso” à violência – sistema esse que dele retira todo o seu livre arbítrio, manipulando-o e moldando-se conforme a expectativa de uma sociedade hipócrita, falha e alienada. A obra também acaba por fazer uma crítica ao sistema carcerário e como o seu método de correção inviabiliza a reabilitação do seu humano, em especial, o de Alex, o protagonista desta história que foi escrita há quase 60 anos e que, desde então, se tornou lendária e popular entre os jovens e adultos.

Em breve resumo da história, que se passa em uma sociedade distópica comandada por um governo totalitário, Alex DeLarge é um jovem de 15 anos que faz parte de uma gangue de delinquentes londrinos que, sob o efeito de drogas sintéticas ingeridas no leite, comete crimes de ultraviolência noites afora, tais como estupro, assassinato, extorsão, roubo, agressão e violência verbal. Após um dos ataques não ocorrer conforme o esperado, a gangue de Alex acaba conseguindo fugir, enquanto ele é capturado e encaminhado ao presídio, onde é submetido, como cobaia, a um novo tratamento que promete a cura da violência juvenil. Nesse tratamento, conhecido no livro como Tratamento Ludovico, Alex é forçado a assistir, imobilizado, cenas de extrema violência enquanto recebe injeções de substâncias que lhe causam repulsa e enjoo. Com isso, o que se pretende é causar em Alex o sentimento de aversão a tudo que remeta à violência. Após o tratamento, Alex retorna para a sociedade, incapaz realmente de se manter-se próximo de qualquer situação violenta, porém, incapaz também de apreciar o compositor clássico que tanto amava: Beethoven, tamanhas o alcance e as consequências do “lavagem cerebral” ao qual foi submetido.

A história é narrada em primeira pessoa por Alex que, em descrições “cruas”, expõe seu caráter de garoto criado em ambiente tóxico e degradante, o que faz ao nos compartilhar com o leitor os seus pensamentos maldosos, a frieza de sua conduta e a necessidade de sentir-se superior a pessoas social, cultural e fisicamente vulneráveis e, muitas vezes, aos seus próprios colegas da gangue.

Burgess, autor do livro, criou algumas expressões novas como forma de ambientar o leitor no tempo e espaço pretendidos e conferir à narrativa o seu tom distópico definitivo. Seu vocabulário próprio pode ser acompanhado por um glossário ao final do livro, porém a experiência como leitor atento e imerso desse clássico parece ser mais completa se não precisar recorrer a ele. O uso corriqueiro dessas expressões pode amarrar um pouco o fluxo da leitura no início do livro, entretanto, à medida em que ela avança é completamente possível compreender essas expressões e se acostumar com o uso e presença delas.

Apesar do comportamento violento de Alex, a sinceridade de seus relatos pode até proporcionar uma maior empatia com o personagem quando este já se encontra no presídio, sendo submetido a tratamentos degradantes. E viabiliza uma reflexão ainda maior sobre essa sociedade distópica (ou nem tanto) trazida pelo livro: até que ponto a maldade do ser humano pode ou não ser fruto de uma visão distorcida imposta por um ambiente hostil e manipulador? Será que todos nós estamos, de fato, exercendo nosso poder de escolha ou estamos apenas vivendo uma “liberdade” que já chegou a nós com seus limites preestabelecidos?

Vale a reflexão!

Boa leitura e um forte abraço!

 

Ficha técnica:

Livro: Laranja Mecânica

Editora: Aleph

Ano de lançamento: 1962

Autor: Anthony Burgess

Nº de páginas: 352

Gênero: ficção científica/distopia

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