Um clássico é um clássico.
Escrito por Anthony Burgess, “Laranja Mecânica” é um livro que traz em seu
contexto uma relevante crítica ao sistema de tratamento ao qual o protagonista é
submetido para se tornar “avesso” à violência – sistema esse que dele retira
todo o seu livre arbítrio, manipulando-o e moldando-se conforme a expectativa
de uma sociedade hipócrita, falha e alienada. A obra também acaba por fazer
uma crítica ao sistema carcerário e como o seu método de correção inviabiliza a
reabilitação do seu humano, em especial, o de Alex, o protagonista desta
história que foi escrita há quase 60 anos e que, desde então, se tornou lendária
e popular entre os jovens e adultos.
Em breve resumo da história, que
se passa em uma sociedade distópica comandada por um governo totalitário, Alex
DeLarge é um jovem de 15 anos que faz parte de uma gangue de delinquentes
londrinos que, sob o efeito de drogas sintéticas ingeridas no leite, comete
crimes de ultraviolência noites afora, tais como estupro, assassinato,
extorsão, roubo, agressão e violência verbal. Após um dos ataques não ocorrer
conforme o esperado, a gangue de Alex acaba conseguindo fugir, enquanto ele é
capturado e encaminhado ao presídio, onde é submetido, como cobaia, a um novo
tratamento que promete a cura da violência juvenil. Nesse tratamento, conhecido
no livro como Tratamento Ludovico, Alex é forçado a assistir, imobilizado,
cenas de extrema violência enquanto recebe injeções de substâncias que lhe causam
repulsa e enjoo. Com isso, o que se pretende é causar em Alex o sentimento de
aversão a tudo que remeta à violência. Após o tratamento, Alex retorna para a
sociedade, incapaz realmente de se manter-se próximo de qualquer situação violenta,
porém, incapaz também de apreciar o compositor clássico que tanto amava: Beethoven,
tamanhas o alcance e as consequências do “lavagem cerebral” ao qual foi
submetido.
A história é narrada em primeira
pessoa por Alex que, em descrições “cruas”, expõe seu caráter de garoto criado
em ambiente tóxico e degradante, o que faz ao nos compartilhar com o leitor os seus
pensamentos maldosos, a frieza de sua conduta e a necessidade de sentir-se
superior a pessoas social, cultural e fisicamente vulneráveis e, muitas vezes,
aos seus próprios colegas da gangue.
Burgess, autor do livro, criou
algumas expressões novas como forma de ambientar o leitor no tempo e espaço
pretendidos e conferir à narrativa o seu tom distópico definitivo. Seu vocabulário
próprio pode ser acompanhado por um glossário ao final do livro, porém a
experiência como leitor atento e imerso desse clássico parece ser mais completa
se não precisar recorrer a ele. O uso corriqueiro dessas expressões pode
amarrar um pouco o fluxo da leitura no início do livro, entretanto, à medida em
que ela avança é completamente possível compreender essas expressões e se
acostumar com o uso e presença delas.
Apesar do comportamento violento
de Alex, a sinceridade de seus relatos pode até proporcionar uma maior empatia
com o personagem quando este já se encontra no presídio, sendo submetido a tratamentos
degradantes. E viabiliza uma reflexão ainda maior sobre essa sociedade
distópica (ou nem tanto) trazida pelo livro: até que ponto a maldade do ser
humano pode ou não ser fruto de uma visão distorcida imposta por um ambiente hostil
e manipulador? Será que todos nós estamos, de fato, exercendo nosso poder de
escolha ou estamos apenas vivendo uma “liberdade” que já chegou a nós com seus
limites preestabelecidos?
Vale a reflexão!
Boa leitura e um forte abraço!
Ficha técnica:
Livro: Laranja Mecânica
Editora: Aleph
Ano de lançamento: 1962
Autor: Anthony Burgess
Nº de páginas: 352
Gênero: ficção científica/distopia

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