Terminei o livro “O Amor nos Tempos do
Cólera” ontem, 18 de novembro de 2020. Só consegui pensar: “Meu Deus, Gabriel (Gárcia
Márquez), onde quer que você esteja, muito obrigada por esse livro!”. Era quase
meia-noite e eu estava eufórica. Por terminar esse livro e por ele ser uma intensa
e complexa obra.
Ao longo de suas páginas 429 páginas, “O Amor
nos Tempos do Cólera” nos convida a mergulhar em uma história de amor das mais
sufocantes que eu já li. Não em um sentido ruim, mas em um sentido de
intensidade, de entrega, de dedicação e profundidade.
A sinopse do livro, como muitos
interessados verão, menciona se tratar de uma história sobre um triângulo
amoroso. Não enxergo a trama sob essa perspectiva, visto que os 3 personagens
principais não necessariamente antagonizam entre si pelo amor de um deles. Não
há uma disputa por afeto dentro do mesmo espaço-tempo. Por isso, achei essa descrição
inadequada para a história brilhantemente escrita por Gabriel Gárcia Márquez.
O livro, de uma forma poética e descritiva,
conta os encontros e desencontros de Florentino Ariza e Fermina Daza ao longo
de mais de 50 anos. A relação - não
necessariamente amorosa -se inicia entre os dois quando ainda adolescentes,
momento a partir do qual acompanhamos a completa entrega e paixão de Florentino
por Fermina e todas as decisões, os pensamentos e as mudanças que ele vivencia a
partir desse genuíno e intenso amor, ao qual se dedica arduamente ao longo de
quase toda a sua vida.
Um desencontro do nosso “casal” de protagonistas
quando ainda jovens leva Fermina ao distanciamento físico, afetivo e emocional
de Florentino e ao seu casamento com Juvenal Urbino – um personagem que, se
preparem, vocês não conseguirão odiar – casamento esse que perdurou por mais de
50 anos e que, sobretudo, não desvincula Florentino do sentimento puro e
avassalador que sente por Fermina. Na verdade, acaba por intensificá-lo, o que
torna a obra complexa, justamente por descrever e desenvolver sentimentos e
pensamentos que não nos parecem comuns na literatura.
Também pode-se dizer que é uma história
sobre fé e entrega. Muitas vezes me senti sufocada pelo amor de Florentino por
Fermina e me perguntando a que ponto um sentimento como esse, na intensidade e
no modo como é apresentado, seria considerado saudável nos dias de hoje. Mas o
que me fez interpretar com pureza os atos, vontades e sentimentos de Florentino
foi a sua total fé no decurso natural do tempo, na ordem das coisas, no
desenrolar e na naturalidade da própria vida. Ainda que ele mesmo tenha se questionado
diversas vezes sobre o propósito de toda o seu amor dedicado, o que prevaleceu
no seu desenvolvimento pessoal foi a fé. A fé de que o seu esforço não seria em
vão. A fé de que aquele amor valia a pena ser vivido – quando, onde e da
maneira que fosse. A fé de que toda uma vida poderia ser enfrentada, se
necessário fosse, para que ele tivesse um só dia com Fermina Daza.
Como pano de fundo, temos a América Latina
e um longo (e desafiador) surto de cólera – doença que acaba servindo como
marco temporal da narrativa e que impacta a vida dos personagens, em maior
ou menor grau com o passar dos anos. Na realidade, cheguei a
considerar o próprio cólera como um personagem da história, que estava ali,
onipresente, definindo e redefinindo o tempo-espaço dentro do qual a trama se
desenrola.
A complexidade da obra eu atribuo tanto à
poética escrita de Gabo, quanto à exaustiva (e deliciosa) descrição que ele faz
dos mais diversos elementos da história. Eu brinco dizendo que é uma
experiência quase sensorial, palpável, tamanha a profundidade da imersão em que
o leitor consegue se colocar nessa leitura. Um certo ritmo caliente percorre os
acontecimentos envolvendo Florentino, antagonizando com a frieza daqueles que
envolvem Fermina. O que, vale dizer, os distancia, mas os completa na mesma intensidade,
não deixando dúvidas no leitor de que esse amor merece ser defendido (e
experenciando) em todos os seus aspectos.
Com
certeza, um clássico. Gabriel tem o seu próprio estilo narrativo e se tornou
genial justamente por isso. “O Amor nos Tempos do Cólera” é uma obra que deve
ser realmente reverenciada e lida por todos os amantes de livros.
Boa
leitura e forte abraço!
Ficha técnica:
Livro: O Amor nos Tempos do Cólera
Editora: Record
Ano de lançamento: 1985
Autor: Gabriel Gárcia Márquez
Nº de páginas: 429
Gênero: Ficção/romance/realismo mágico

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